A mobilidade e sustentabilidade: seus princípios básicos

ATUALIZADO Dezembro 23, 2020

Muito tem se discutido à respeito da mobilidade, ou melhor, da falta dela nas grandes, e mesmo algumas cidades de porte médio. Entretanto ainda poucas ou raras, ou mesmo nenhuma solução no meio técnico explicando como se atingir esta situação que sejam embasadas em custos gerais da cidade.

Este artigo pretende discutir especialmente o assunto mobilidade em seus conceitos mais básicos; será focado inicialmente na cidade de Florianópolis (SC, Brasil) e sua Região Metropolitana, uma das piores mobilidades do mundo, onde o desequilíbrio entre moradia e trabalho, bem como ao estudo, e outras amenidades da cidade fica bem evidenciado.

Para começar, se analisa a origem do nome MOBILIDADE, lançado pela primeira vez na América do Norte. Mas, o nome correto deveria ser acessibilidade, porém esta denominação já tinha sido apropriada ou possuída pelo setor do Desenho Universal. Esta disciplina se revela crucial para se atingir a sustentabilidade, pois foi criada para prover micro espaços muito importantes destinados a prover o ambiente urbano ao alcance de todas as pessoas, desde crianças até idosos, com ou sem anormalidades sensoriais ou físicas ou ortopédicas.

Começam aí os problemas de mobilidade, desde que ninguém está livre de ficar incapacitado, mesmo temporariamente, de algum órgão sensorial (visão, audição, por exemplo) ou que afete a mais simples locomoção. Então, no macro espaço se situa a Mobilidade, enquanto no micro espaço se situa a Acessibilidade, a partir de pequenos movimentos desde a saída da cama até um meio de transporte, seja lá qual for, andando ou dirigindo.

Este artigo vai ensejar mais detalhadas explicações técnicas sobre os efeitos do desenho urbano na Mobilidade, e os consequentes impactos em custos de logística de transportes, também na infraestrutura, desde custos de pavimento, redes de água e energia. Pretende, também ensejar a entrada em detalhes do efeito da demografia, explicitada aqui por meio da densidade demográfica, até custos de transporte público e individual, bem como isto afeta na valorização ou no custo de adquirir seu imóvel; o uso misto dos espaços urbanos se agrega no uso equilibrado das infraestruturas.

Com esta intervenção sob a ótica de serviços básicos da cidade que dependem muito de um Urbanismo consciente, pode-se inferir que o planejamento de uma Mobilidade Urbana Sustentável pode ser atingida com determinadas medidas urbanísticas com auxílio da engenharia e do conhecimento de infraestrutura; custa pouco, mas demora algum tempo, porém, seus resultados são notáveis para saúde mental e financeira da população.

A Mobilidade dita Sustentável refere-se muito mais a um objetivo permanente em reduzir a necessidade de quaisquer Sistemas de Transporte (pela sua racionalização) do que continuar atendendo às demandas por espaços de tráfego, de modo a aumentar as ações e relações humanas, tais como implementar caminhadas e/ou usar outros meios não mecânicos de transporte para o desempenho mais saudável das atividades numa cidade; em curtas palavras: atender a demanda pura e simplesmente significar resolver os efeitos sem considerar as causas.

Segundo diversos estudos desenvolvidos e comprovados na área, é fundamental que a mensagem transmitida a população sobre o tema Mobilidade seja revertida a favor dos modos sustentáveis baseado essencialmente os deslocamentos a pé, por bicicleta e, quando em distâncias maiores, usar o transporte coletivo. Esta situação de sustentabilidade somente será atingida quando as pessoas como moradoras puderem fazer a maioria do essencial a sua vida, como ir ao trabalho, ao estudo, às compras, ao atendimento médico rotineiro (ambulatorial, por exemplo), e a muitas outras amenidades de uma cidade em caminhadas ou em ciclo-viagens.

Então, no macro espaço se situa a Mobilidade, enquanto no micro espaço se situa a Acessibilidade

Prof. Roberto de Oliveira – PhD Eng. Civ.

Ao contrário de muitas medidas cosméticas e/ou de ordem mercadológicas que pregam uso de eletrônicos, soluções inovadoras de infraestruturas de transportes urbanos — embora amenizem algo da falta de mobilidade — a busca e a manutenção da Mobilidade Urbana Sustentável (MUS) fica quase impossível ter outros caminhos senão o que vai ser apontado aqui. Esta trajetória em direção a MUS tendo em vista ao mau desenho urbano que vem sendo empregado, por se caracterizar pela lentidão e gradualidade, mas tem efeitos permanentes e que são irreversíveis, além de custo de implantação muitíssimo mais barato para a população.

Os caminhos convencionais apregoados em mídia, e mesmo em alguns setores técnicos e de Planejamento Urbano, tais como investir pesadamente em infraestrutura (mais pontes, viadutos, alargamentos de vias públicas, entre outros), além de caros terão resultados duvidosos em curto prazo e, em médio prazo, ineficazes.

O básico da MUS tem três vertentes indissociáveis e necessita da respectiva gestão integrada:

  • desenho urbano: é a forma de traçar, estabelecer padrões de ocupação do solo.
  • infraestrutura: a base de apoio para atividades diárias e corriqueiras da sociedade
  • transporte coletivo: é o meio mais eficaz tanto econômica, quanto socialmente de conduzir a sociedade às suas demandas de trabalho, saúde, educação, laser, por exemplo.

Com isto, se poderá atingir a tão decantada e requerida sustentabilidade; trata-se de um resultado das ações acima, devendo ser equilibrado tanto econômica, quanto ambiental e socialmente. Isto precisa de Gestão Técnica Integrada, ou seja, tudo isto sob a mesma direção/orientação técnica.

O que se verifica nesta cidade é um arremedo de gestão municipal, tão fraca, pois sem a existência de equipe técnica capacitada (e multidisciplinar), quanto sua desvinculação de uma Gestão Metropolitana, afinal, nossos maiores problemas se agravam pela conurbação.

Fotografia: Adrien Olichon

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