Artes plásticas em Brasil: os nichos underground

Meu nome é Paulo Govêa, sou artista plástico autodidata paulistano, atualmente vivo em Florianópolis. Não sei exatamente como classificar o meu trabalho, mas acredito ser um algo Figurativo Surrealista ou vice-versa. Deixo a vocês a escolha.

Meu primeiro contato com arte se deu através da minha mãe Maria do Carmo Govêa. Ela pintava telas que expunha na praça da República em São Paulo ali no início dos anos 90. Ainda criança eu ia ajudá-la aos domingos a carregar as telas e passávamos o dia por lá.

Nessa oportunidade tive contato com muitos artistas que lá também expunham. A maioria deles tinha um estilo clássico como os da minha mãe, pintavam natureza morta e paisagens. Alguns acredito serem muito bons. Ao menos na minha memória, pois eu tinha por volta de 10 anos na época.

Minha mãe não queria que eu fosse artista, dizia que isso “não dava futuro”. Ela dizia: “Você precisa ter uma profissão e ter a arte apenas como hobby.

Quando fiz 18 anos me mudei para Florianópolis e por falta de trabalho comecei a vender camisetas pintadas para ganhar algum… Mas, não ganhei, mal dava para pagar o custo do material, em alguns meses desisti.

Fui para o ramo de hotelaria trabalhar em restaurantes, fiquei em Florianópolis por volta de um ano e meio, depois voltei para São Paulo por falta de trabalho. Chegando em São Paulo comecei a trabalhar como vendedor de livros e revistas na rua. No começo foi foda, porque eu era muito tímido. Tive que aprender na marra. Um amigo me falou “É melhor você passar vergonha de barriga cheia do que ficar ai introspectivo com essa cara de c*, passando fome.” E assim foi, fiquei dois anos como vendedor na rua em São Paulo. O que, no fim, foi muito útil, hoje sou um artista independente e não trabalho diretamente com nenhuma galeria. Até gostaria, mas ainda não achei uma proposta alhinada com meus interesses.

Depois de dois anos em São Paulo resolvi que voltaria para Florianópolis. Chegando aqui encontrei alguns amigos e voltei para o ramo de restaurantes. Trabalhei por muitos anos até chegar no Confraria Das Artes, um espaço muito legal que trabalhava com gastronomia e diversos seguimentos de arte. Ali comecei a ver uma perspectiva em viver como artista. Logo pedi demissão e aluguei um espaço com alguns amigos. Passamos juntos ali um ano até que todos resolveram ir cada um para um lado. Na época eu mal tinha dinheiro para pagar minha parte. Fazia alguns freelancers de garçom para complementar. Mas eu falei para eles que tentaria segurar a onda do aluguel sozinho. Foi quando um amigo, Sergio Chill, investiu uma grana em algum material para que eu pudesse pintar algumas obras para deixar em um espaço que tinha me convidado para expôr. Fizemos, e eu consegui vender algumas peças, mas nada demais.

Esse investimento financeiro e emocional foi crucial para eu continuar. Valeu, Serjones!

Neste mesmo tempo tinha um amigo chamado Pedro Teixeira que vivia perto ao meu estúdio. Pedro, vulgo “Driin”, passava sempre em meu estúdio para me convidar para pintar na rua. Um dia resolvi ir, peguei gosto e fiz alguns trampos. Até que chegou um diretor de arte de uma agência que tinha a conta do Banco do Brasil, viu meu trabalho na rua e resolveu me convidar para assinar uma campanha nacional do banco. Foi aí que tudo mudou. Trabalhei por 6 meses nessa campanha e resolvi me desligar. Era bem remunerado e tinha grande visibilidade. Mas, não era aquilo que eu queria para meu trabalho: tudo que fazia tinha uma certa direção e não estava feliz com aquilo.

Muitos amigos me disseram: “Você é louco, você é burro?” Mas, mesmo assim resolvi deixar.

Na época meu trabalho expressava um estilo Naif. Tinha essa abordagem estilística desde que resolvi viver profissionalmente de arte. Assim que deixei de trabalhar como garçom esse personagem de cabeça grande e triangular foi só o que pintei e ele está comigo até hoje.

Logo que me desliguei dessa campanha do Banco do Brasil, mais ou menos um ano depois, surgiu o convite para uma exposição coletiva no Museu De Arte Moderna de Chiloé no Chile. Depois disso, recebi convite para uma exposição na Montana Gallery em Barcelona. Estas duas exposições internacionais me fizeram repensar meu trabalho e foram importantíssimas para uma mudança. Esse foi o começo, criei esse personagem para ter fácil reconhecimento na rua e depois não consegui mais deixá-lo.

Na minha primeira fase, ele era um pouco Naif e trabalhava mais as cores com mensagens simples. Isso foi entre 2005 e 2010. Minha segunda fase começou logo após a volta de viagem desta minha exposição em Barcelona. Comecei a seguir uma linha um pouco mais realista nas formas do corpo do meu personagem e nos objetos que compunham a obra com um leve toque surrealista. Essa fase durou de 2010 a 2014.

Depois, em 2014, tive o convite para pintar um mural em Newark, NJ. Foi onde tive mais essa mudança para essa linha surrealista, dos personagens sem face preenchidos com elementos. Em todas as mudanças eu estava me sentindo incomodado com meu trabalho e isso é muito difícil. Essa sina do artista autoral de estar sempre querendo mudar é pesada. E hoje ser original está cada vez mais difícil. Quando você pensa que criou algo, alguém já fez ou tem um trabalho muito próximo. Vida de artista não é fácil! No entanto, essa liberdade eu não troco por nada.

Obrigado Ioyk por expôr um pouquinho da minha história e obra!

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