Como funciona o desenvolvimento visual para projetos 3D?

Oi. Sou Mani Salguero, artista equatoriano de artes 3D, me especializo em textura, iluminação e visual de personagens, adereços e ambientes. Projetos pessoais me conectam com meu desejo de continuar aprendendo (e evoluir) neste setor que cresce rapidamente a cada dia.

Hoje quero contar para vocês como trabalho e organizo a parte visual dos meus projetos. Gosto muito da experimentação visual por trás de cada imagem. Poder brincar com perspectivas, luzes, cores e formas, parece-me fundamental num espaço que convida a brincar com ferramentas, como é na animação.

Algo que pessoalmente me emociona muito é ver como o interesse por novas técnicas de animação aumenta a cada dia, tanto em videogames quanto em filmes, curtas-metragens ou séries, é uma corrente que está em constante experimentação. Exemplos claros disso são o Homem-Aranha no Spideverse ou Little Devil Inside, que são peças que nunca me canso de rever em detalhes, dissecando cada fragmento e tentando aprender como e porque as técnicas utilizadas foram selecionadas, para posteriormente esclarecê-las em um conjunto organizado do chamado “brainstorming”.

Para mim, o primeiro passo é começar a definir um caminho, procurando muitas referências. As referências te guiam, são elas que fazem a diferença entre saber o caminho que você vai fazer ou ter seu projeto afundado sem nem mesmo começar. Encher-se de ideias visuais o ajudará a determinar para onde deseja ir. Para isso utilizo um programa gratuito “PureRef”, aqui guardo todas as referências que posso, e faço uma seção diferente para cada área, tanto para modelagem, formas, iluminação, cromática, texturas e até texturas específicas para cada parte do um adereço ou personagem.

Pessoalmente, é uma etapa na qual passo muito tempo, porque é aquela que ajuda a definir os motivos de certas decisões que serão tomadas; como a estética do projeto ou mesmo quando diferentes tipos de ideias vão se misturar para experimentar. Na hora de definir seus recursos, você pode começar a pensar sobre o caminho que vai seguir, as vantagens e possíveis complicações que podem surgir. No meu fluxo de trabalho é muito útil para mim desenhar alguns planos importantes, imaginar como eles funcionarão em 3D e como quero manter certas figuras / formas de 2D para 3D.

O detalhe é muito importante para mim e acho maravilhoso poder se comunicar através de texturas que fazem os personagens falarem por si. Como criadores visuais, temos a capacidade de brincar com o subtexto da imagem, aqueles detalhes que fornecem informações implícitas e ampliam o conhecimento geral do que é apresentado.

Temos a capacidade de criar mundos, somos criadores de cenas que muitas vezes não vão além de uma simples imagem, mas esse detalhe pessoal que damos a ela nutre muito uma moldura, mas não é o minúsculo detalhe que faz a criação daquele mundo, senão, o conjunto deles, aquele que nutre e preenche uma ideia para expandir a concepção que como artistas damos àquela imagem ou animação, para mim esse detalhe se encarrega de falar sobre a distinção do seu trabalho, que pode se diferenciar muitas vezes de outros artistas incríveis e talentosos.

É por isso que minha área favorita é textura e iluminação, que é onde me sinto mais livre para incluir e experimentar visuais. Gosto de inventar histórias para personagens que muitas vezes não são minhas, ou imaginar por que estão do jeito que estão, o que aconteceu naquele dia, e a partir das texturas, enchê-lo de amor.

Recentemente, lancei um curso Look Dev, esse curso veio com um robô, o mais simples talvez teria sido texturizar esteticamente bem e virar a página, mas para mim, aquele robô foi o último com as informações da humanidade após a extinção iminente , seus detalhes informavam onde ele tinha estado, até mesmo evidências podiam ser vistas em seus metais de que ele teve contato com novas tribos humanas.

Temos sempre que ter em mente porque algo fica assim, mesmo que seja um fator estético e que trabalhar na textura vai enriquecer o seu trabalho com detalhes.

A iluminação é a parte em que posso testar o clima da cena, e não necessariamente com o calor ou frio, senão o motivo do tipo de contrastes que vamos lidar, é o ponto onde você expressa tranquilidade, inocência ou tensão da cena; Afinal, pintamos com luzes e sombras, dando atenção assim a um ponto da foto, muitas vezes pensamos que iluminação é simplesmente ter um lindo enquadramento, mas esquecemos que se trata mesmo de comunicar emoções, mesmo sendo uma iluminação de estúdio, devemos entender porque usaremos três ou duas luzes para iluminar o mesmo objeto e para isso não há coisa melhor do que entender o seu ambiente.

Meu conselho é sempre olhar como a luz pinta o mundo ao seu redor, se é um ambiente fechado ou se é luz do sol em momentos diferentes, a direção e os contrastes sempre mudam nos mostrando coisas novas. Saber fotografia também é essencial.

A modo de exemplo, posso falar sobre um projeto junto com o Paúl Barragán, um grande amigo animador, foi um projeto que demorei muito a terminar, tratava-se de dinossauros. Para o projeto como tal na parte de textura e iluminação demorou cerca de 4 meses, pela quantidade de detalhes com que trabalhei, passei muito tempo duvidando da iluminação, o conceito era simples, um dinossauro fugindo do outro .

A coisa mais simples que me ocorreu e no primeiro teste que fiz, foi uma iluminação noturna com muito contraste, mas parecia muito básica, então pensei que trabalhando com iluminação diurna talvez daria um efeito de falso calor e eu descartei esse tipo de iluminação, mas fui convencido a mudar de ideia quando em vez de deixar uma simples luz do dia, me dediquei a fazer as luzes queimarem um pouco a cena, com um forte contraste entre elas, meu principal objetivo com isso, era dá a sensação de que a luz queima e continuará a queimar, não importa aonde o dinossauro vá, então o clima da cena representa que o dinossauro não está seguro em lugar nenhum.

Muitas vezes nos concentramos apenas em saber se está quente ou frio, mas esquecemos que existem infinitas variações com as quais podemos brincar. Nem tudo é dia e noite, dependendo de como uma cena ou ideia é montada, a interpretação será diferente.

Outro projeto pessoal é “Sarah no Sofá” também animado pela minha parceira, meu objetivo era brincar com a ingenuidade da menina, falando em um mundo adulto, fiz questão de que todos os adereços com os quais ela interage, sejam algo antigo em sua modelagem e a sua textura, mas tudo o que lhe pertence, como os seus brinquedos ou roupas são cheios de cor e manchados de tintas … neste projecto fui muito inspirado pelo trabalho que a Sony Imageworks tem feito ultimamente, por isso decidi experimentar um pouco com a temática dos shaders e da composição, resultando em um estilo mais aquarela / comic, brincando de acordo com a ideia da inocência da menina, mesmo em um ambiente noturno, queria sentir o calor da conversa da menina, com os brinquedos de seus amigos.

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Dinosaurio Fugindo (Render 03)

Algo que aprendi é essencial para pegar todas as informações que temos e processá-las para contar o que queremos contar, é muito fácil se perder em uma floresta cheia de ideias e mesmo se você for alguém que trabalhou toda a sua vida na indústria, estamos sempre aprendendo.

A concepção que temos de conhecer qualquer ferramenta ou software é fugaz. A cada dia novos softwares são desenvolvidos com o objetivo de “facilitar” nosso trabalho, no processo agrega novas funções e “atalhos”, resultando em novas curvas de aprendizado necessárias para mudar e adaptar nossa forma de trabalhar. A importância de não estagnar anda de mãos dadas com aprender e continuar em constante movimento; E para mim, não há melhor maneira de experimentar novas ferramentas do que experimentá-las por si mesmo em seu próprio projeto.

Começar um projeto é sempre um desafio, pelo simples fato de pensar por onde começar e muitas vezes vira uma avalanche com milhares de ideias que acabam te esmagando e como em qualquer processo, o primeiro passo é dissecá-lo por partes, comece por definir para si mesmo pequenos objetivos que possa alcançar progressivamente, em vez de um objetivo macro, mesmo um pequeno objetivo diário, sem esquecer o que queremos dizer, mas mais importante, porque é que queremos dizer assim.

O maior conselho que posso lhe dar é que comece, e não desista, a perseverança é um hábito que se adquire, e isso não significa gastar horas e horas sem muito sentido, senão, o que você pode entregar do seu tempo; crie um hábito de aprendizagem onde você possa se dedicar ao aprendizado brincando um pouquinho todos os dias e como dizia o bom Babuíno do Cavaleiro de Bojack: “A cada dia fica mais fácil, mas você tem que fazer isso todos os dias, essa é a parte mais difícil . “

Nas redes sociais você pode me encontrar como Mani Salguero, ficarei muito feliz em esclarecer qualquer dúvida e agradeço ao IOYK pela oportunidade de falar um pouco sobre meu trabalho.