O reino animal possui diversos grupos com características impressionantes. Existem fatos que certamente você nunca ouviu falar, como que os beija-flores batem as asas 200 vezes por segundo ou que a rã-da-floresta pode congelar completamente durante o inverno e descongelar na primavera ou que o peixe-palhaço dominante se transforma em fêmea quando ela morre como uma maneira de substituí-la e até mesmo que as lesmas podem se esconder por três anos em sua concha em caso de tempo ruim.
E por falar em lesmas, elas não devem ser subestimadas como animais nojentos e pegajosos, pelo contrário. Cientistas fizeram o registro de um feito no mínimo curioso. De acordo com o estudo, existem duas espécies de lesmas do mar (Elysia cf. marginata e Elysia atroviridis) que cortam a própria cabeça, mas que depois ela pode voltar a crescer. Curioso não?
Essas espécies de lesmas também são chamadas de lesmas do mar sugadoras de seiva. Elas são capazes de se autotomizar, quando um animal consegue lançar certa parte do corpo de maneira voluntária, conforme explicou a pesquisadora, autora do estudo e estudante de doutorado do departamento de ciências biológicas da Universidade Feminina de Nara, no Japão, Sayaka Mitoh
Segundo a estudiosa, não foi possível saber o motivo pelo qual esses animais fazem a liberação de uma parte do corpo tão vital. Porém, já é de conhecimento da ciência que alguns animais tem essa ação pois com isso fazem a remoção de parasitas internos que atrapalham sua reprodução.
O que a pesquisa analisou.
A pesquisa apontou que cinco das 15 amostras de lesmas iniciaram o processo de decapitação entre 226 e 336 duas após eclodirem. E mais: iniciaram alimentação através de algas algumas horas após de perder partes do corpo. O coração do molusco começou a se regenerar em sete dias. Em 20 dias as lemas tinham feito a regeneração de todo o corpo.
Das 82 lesmas Elysia atroviridis, três tiveram decapitação na parte do pescoço e duas conseguiram a regeneração em uma semana.
A sorte não é para todas.
O estudo verificou ainda que lesmas com mais idade, da espécie Elysia cf. que nasceram 480 a 520 dias anterior a decapitação não se alimentaram e não resistiram. Elas morreram depois de 10 dias.
Mitoh disse ainda que lesmas mais velhas que fazem a decapitação não sobrevivem geralmente, mas podem ter alguma chance de sobrevivência e regeneração do corpo sem parasitas. A pesquisadora ainda não sabe como esse animais podem sobreviver sem órgãos vitais. Já no caso do coração, elas sobrevivem devido ao tamanho da cabeça, que é pequeno e é capaz de absorver oxigênio através da superfície do corpo.
Algo chamou a atenção de Mitoh durante o estudo. Uma das amostras completou o processo de regeneração duas vezes. Como isso aconteceu ainda é motivo de mistério pela ciência. O estudo chamou atenção do professor e chefe do departamento de ciências biológicas da California State Polytechnic University, Pomona, Ángel Valdés, que classificou o feito de Mitoh como intrigante.
Ele lembrou que outras lesmas-do-mar da espécie sacoglossas são capazes de regenerar apêndices e outras partes do corpo. Porém, a descoberta feita no Japão é apontado por ele como extremo. A descoberta foi inspiradora para o professor, que quer repetir os resultados da pesquisa. Ele informou estar curioso pelos mecanismos moleculares e fisiológicos que envolvem a regeneração do corpo desses animais.
Já a pesquisadora disse que o fenômeno necessita de mais pesquisas, sobre as espécies analisadas no experimento, assim como sobre outras espécies de animais.
Fotografia: Jeff Talbott