Zoonoses: Doenças transmitidas por Animais

Apesar de a Medicina Veterinária já estar presente no Brasil há mais de 100 anos, ainda pouco se conhece a respeito da área de atuação desse profissional.

Muitos acreditam que os médicos veterinários atuam apenas nos cuidados de cães e gatos, mas a verdade é que essa carreira é extremamente abrangente, englobando não somente a clínica e cirurgia de diversas espécies animais, mas também marcando presença nas áreas da pesquisa, produção de animais, animais de laboratório, perícia criminal e até mesmo no SUS, o Sistema Único de Saúde, através da inspeção de produtos de origem animal e no controle de zoonoses (doenças transmitidas de animais para humanos), por exemplo. O Conselho Federal de Medicina Veterinária aponta que existem mais de 80 áreas de atuação desses profissionais no Brasil, atualmente.

No ano de 2020, muitos brasileiros questionaram a nomeação de Lauricio Monteiro Cruz, médico veterinário, como responsável pelo Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, causando reboliço nas redes sociais e levando vários profissionais da área a se pronunciar em diversos canais da internet para informar a população a respeito do exercício do veterinário na saúde pública e da importância dos mesmos no contexto de pandemia que o mundo enfrenta atualmente. Lauricio, como médico veterinário, atua há mais de 30 anos no SUS, implementando políticas de prevenção de doenças transmissíveis, notificando enfermidades e investigando surtos e epidemias no país, dentre outras funções.

Sabe-se que, atualmente, cerca de 62% dos microorganismos conhecidos que infectam humanos são transmitidos por animais, e que 75% das doenças emergentes no planeta são oriundas da fauna silvestre. Ainda, existe uma lei que garante que o estudo e a intervenção em doenças zoonóticas são responsabilidade do veterinário, que é desde 1998 reconhecido como um profissional da saúde pelo Conselho Nacional de Saúde e que é parte obrigatória do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), a fim de prevenir e diagnosticar, na população, doenças transmitidas por animais como a raiva e a febre amarela, por exemplo.

Hoje, mais do que nunca, a atuação do médico veterinário é requerida no mundo todo, uma vez que a pandemia do Covid-19 foi originada de uma espécie de morcego, um animal silvestre estudado e monitorado por esses profissionais. Atualmente, existe uma gama de veterinários realizando pesquisas de materiais e formas de combater a pandemia do Coronavírus no Brasil, dentro de universidades e institutos espalhados pelo país. Uma parceria entre a USP e diversas empresas privadas permitiu que a Universidade realizasse testes para diagnóstico do Covid-19 na região de Pirassununga/SP, realizados por médicos veterinários que são também professores da Instituição. Esse fato auxiliou não somente a diminuição da disseminação do vírus, como também possibilitou uma série de estudos sobre esse vírus responsável pela pandemia que enfrentamos no momento.

Além disso, toda a inspeção e vigilância de produtos de origem animal, tais como carnes, leite e derivados, ovos e mel, por exemplo, são obrigatoriamente realizadas pelo médico veterinário, que é responsável por garantir que os brasileiros desfrutem apenas de alimentos saudáveis à sua mesa. Essas tarefas podem ser desempenhadas em frigoríficos, granjas, fazendas ou até mesmo em aeroportos, averiguando cada produto que chega ou sai do recinto para evitar que patógenos não existentes no Brasil possam adentrar o país e causar problemas de saúde em uma ou mais pessoas.

Os profissionais desse âmbito são encarregados de inspecionar minuciosamente os alimentos como um todo, desde o momento do abate dos animais ou da coleta do alimento (a ordenha, por exemplo), realizando testes para avaliar se há inconformidades ou adulteração dos produtos, até o momento em que o alimento chega à prateleira para o consumidor final, avaliando se as condições de armazenamento estão sendo respeitadas ou se o produto está sendo fracionado.

Alguns exemplos práticos dessa inspeção e vigilância são o mel, que não deve ser oferecido a crianças menores de dois anos devido ao seu alto potencial de contaminação por toxinas que podem causar botulismo, principalmente; e a carne moída, que deve ser moída no momento da compra, não devendo ser oferecida já fracionada em bandejas ou embalagens semelhantes, por ser um alimento que apresenta grande superfície de contato com o ar, o que culmina em maiores chances de contaminação do alimento. Os rótulos dos alimentos de origem animal também são inspecionados pelo médico veterinário, que deve garantir que todas as informações necessárias estejam contidas no produto.

Por fim, podemos concluir o assunto com uma sábia frase de Louis Pasteur, que diz: “A Medicina cura o homem, a Medicina Veterinária cura a humanidade”. Os médicos veterinários atuam diretamente na saúde da população em diversos aspectos, e devem ser considerados e respeitados como profissionais da saúde. Enquanto há um veterinário dentro de uma clínica medicando o seu animalzinho, é importante saber que também existem vários outros lutando todos os dias para garantir a saúde e segurança de todos à nossa volta.

Fotografia: Fabian Gieske

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